Pular para o conteúdo principal

A lei protege Temer de investigação por atos fora do mandato?




São Paulo – Apesar de aparecer em dois pedidos de inquérito enviados pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente Michel Temer não entrou, pelo menos por ora, na lista de políticos investigados sob o escrutínio da mais alta corte do país.
A razão para isso, segundo o próprio Janot, é que Temer possui uma espécie de “imunidade temporária” determinada pela Constituição para quem ocupa o cargo de Presidente da República.
Tal decisão é baseada no parágrafo 4º do artigo 85 da Carta Magna que diz que o chefe do Executivo, “na vigência de seu mandato, não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções”. Em outros termos: qualquer crime cometido fora do mandato do presidente não poderia ser alvo de processo penal.
Essa interpretação do texto, no entanto, gera divergências entre especialistas em Direito e abriu margem para uma petição do PSOL para que o STF reveja a sentença relacionada a Temer.
O partido argumenta que, em  decisão de 2015, o STF se baseou em uma interpretação diferente para o mesmo texto. Na época, o ministro Teori Zavascki, morto em janeiro deste ano,  decidiu que a ex-presidente Dilma Rousseff poderia ser investigada por crimes que teriam sido cometidos fora de seu mandato “caso houvesse indícios”.
A discórdia entre os juristas reside exatamente no seguinte questionamento: a Constituição veta, de fato, a investigação de atos cometidos por um presidente da República antes do mandato?
EXAME.com conversou com dois juristas da Universidade de São Paulo para saber a linha de raciocínio de cada posicionamento.
SIM – Gustavo Badaró, professor de processo penal da Faculdade de Direito da USP
O professor afirma que “embora a Constituição não diga explicitamente que o presidente não pode ser investigado, ela usa um termo amplo que impediria qualquer procedimento penal, inclusive a parte prévia da investigação” sobre atos cometidos fora do atual mandato. Segundo ele, a regra perderia sua razão de ser caso fosse “desmembrada”.
Badaró explica que, nesse caso, a investigação poderia ser instaurada ao final do mandato, quando a imunidade deixar de valer.
“Essa regra visa impedir que se tente, através de um processo criminal, ameaçar indiretamente o exercício do mandato de presidente da República”, diz.
Segundo ele, a situação é diferente do que se discutiu no caso do impeachment de Dilma. No processo da petista, o que estava em debate é uma investigação de atos supostamente cometidos em um mandato anterior do mesmo cargo.
No caso de Temer, que em 2012 era vice-presidente, seriam dois mandatos e dois cargos diferentes, diz o especialista. “Se, no momento dos supostos atos cometidos por Temer, Dilma estivesse viajando e ele fosse o presidente interino, acho que aí sim se poderia cogitar [a investigação]”, afirma.
NÃO – Janaína Paschoal, professora de Direito Penal da Faculdade de Direito da USP
“Na minha leitura, o texto aponta que ele não pode ser punido por um fato anterior ao assumir, mas não que não pode ser investigado”, diz.
“A investigação consistiria em realizar as providências investigativas necessárias, como ouvir testemunhas e fazer perícias. Como ele não pode ser punido, não poderia haver uma sentença condenatória. Mas a apuração dos fatos pode acontecer”, explica.
Sendo assim, no caso de comprovadas irregularidades, a condenação poderia ficar pendente para o fim do mandato do presidente. Autora do pedido que levou ao impeachment da ex-presidente Dilma, a advogada defendeu a mesma interpretação durante o processo contra a petista.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Corpo é encontrado dentro de porta-malas de carro incendiado em Anhembi

Veículo estava abandonado às margens da Samuel de Castro Neves (SP-147). Caso é investigado.   Um corpo foi encontrado dentro do porta-malas de um carro incendiado em Anhembi (SP) nesta quinta-feira (18). Segundo a Polícia Militar, a equipe recebeu uma denúncia que o veículo estava abandonado às margens da Samuel de Castro Neves (SP-147). A Polícia Civil vai investigar o caso e a principal suspeita é que seja um caso de homicídio. A vítima não foi identificada.

Pai é suspeito de matar filho de 13 anos e enterrar corpo em praia no Rio... - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2017/05/04/menino-de-13-anos-e-morto-pelo-pai-e-tem-corpo-enterrado-em-praia-no-rio-diz-policia.htm?cmpid=fb-uolnot-blo&cmpid=copiaecola

A Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu, na quarta-feira (3), um homem suspeito de assassinar o próprio filho, um adolescente de 13 anos, e depois enterrar o corpo na areia da praia de Araruama, na região dos Lagos. O autor do crime, segundo investigação da 118ª DP (Araruama), foi identificado como Robson da Silva Ribeiro. Para a polícia, os fatos indicam que o menor pode ter sido morto por conta de uma disputa envolvendo pagamento de pensão alimentícia. Em depoimento, segundo a polícia, Robson confessou ter enterrado o filho na praia, mas negou que tenha sido ele o responsável pela morte do jovem. O suspeito afirmou, sempre de acordo com a polícia, que o adolescente se afogou no mar. Assustado e temendo ser apontado como autor de um homicídio, o pai teria decidido ocultar o corpo da vítima. A polícia afirma, por outro lado, que a versão dele "não coaduna com as provas das investigações". O desaparecimento do jovem ocorreu no dia 6 do mês passado, após ele ter

Brasileiro sobrevive a uma noite perdido em pista de esqui na França

Eduardo, de 28 anos, não conseguiu esquiar e decidiu descer a pé a montanha, nos Alpes Franceses. Exausto, após mais de quatro horas de caminhada, o turista brasileiro passou a noite em um bosque, com temperatura de seis graus. Estudante de Filosofia e Francês, Eduardo estava com amigos e familiares na estação de Deux Alpes, no maciço do Mont-Blanc. “No último domingo (12), por volta das 16h, o jovem brasileiro decidiu se separar do grupo que estava com ele e descer sozinho a pista verde (nível mais fácil) ”, conta a RFI Brasil o policial Nicolas Grand-Jean, que encontrou o brasileiro no dia seguinte. Novato no esqui, Eduardo não conseguiu descer a pista a cerca de 1800 metros de altitude. De acordo com a equipe da Segurança Civil e do pelotão responsável pelas buscas (PGHM, na sigla em Francês), como não conseguiu deslizar na pista, o brasileiro decidiu tirar os esquis e descer a pé. “Ele caminhou por mais de quatro horas. Mas andar na neve, com botas de esqui,